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EXPOSIÇÃO | NUREYEV NO ESPÓLIO DE ALBERTO DE LACERDA

Este fim de semana é o último em que pode visitar esta fantástica exposição na Biblioteca Nacional de Portugal, dedicada a Rudolf Nureyev (1938-1993), bailarino russo, com peças pertencentes ao espólio do poeta e colecionador Alberto de Lacerda, um amante de dança.

A exposição encontra-se patente na Sala de Referência, desde 8 de fevereiro  encerrando no dia 14 de abril. A entrada é livre e o horário de 2.ª – 6.ª 09h30 – 19h30 e no sábado das 09h30 – 17h30.

Encontram-se em exposição – fotografias, cartazes, programas de espetáculos, livros e obras de arte -, que Alberto de Lacerda (1928-2007) reuniu, assim como textos e poemas que escreveu.

Alberto de Lacerda contava que, ainda adolescente, comprara num alfarrabista de Lourenço Marques um exemplar meio amarrotado da autobiografia de Isadora Duncan e que, a partir desse momento, algo de inesperado surgira na sua vida: a paixão pela dança. 

Dessa paixão há inúmeros sinais. Bem mais do que sinais, há um legado. Uma coleção espantosa de fotografias, cartazes, programas de espetáculos, livros e obras de arte que reuniu, para além dos textos e poemas que escreveu. Espantosa porque revela simultaneamente o seu talento de colecionador, e a sua proximidade a uma arte exigente, difícil de acompanhar, que o obrigou a deslocações e despesas mas que lhe trouxe indizíveis recompensas. 

No seu diário, pode ler-se:

Nova Iorque, 17 de Abril, 78

Cheguei ontem. Semanas especialmente difíceis. Possibilidades de emprego em Tucson, no Arizona, e de ensinar um curso na Columbia University em Nova Iorque. Nervos. Ansiedade.

Um horroroso cansaço – geral: do espírito, do corpo. Espero que a minha vida assente sobre o ponto de vista da sobrevivência material e volte àquilo que é o seu centro: o amor, a poesia e a vivência do real e do autêntico. Vim a Nova Iorque (com grande sacrifício) não para me evadir, mas para re-encontrar o real, o autêntico: neste caso, a dança, na encarnação suprema de Nureyev.

Rudolf Nureyev iniciou a sua carreira em Londres em 1962. Por essa altura, Alberto de Lacerda, que aí tinha chegado no início da década anterior, já se tinha relacionado com historiadores e críticos de dança, conhecido coreógrafos, dançarinos, gente pertencente a um mundo que nunca deixou de frequentar e que lhe proporcionou inspiração e deleite até ao fim da vida.

Para alguém que se deixou arrebatar por talentos e desempenhos tão diferentes como os que Alberto de Lacerda teve ocasião de presenciar ao longo da sua vida de espectador atento e privilegiado, seria talvez inútil tentar fazer uma lista dos que mais o impressionaram.

Mas há do seu próprio punho testemunhos que não deixam qualquer dúvida sobre quem mais admirou. No começo de 1991, numa carta a Luís Amorim de Sousa, então nos Estados Unidos, refere: «A minha musa morreu. O pranto não cessa». A musa era Margot Fonteyn. E para Alberto de Lacerda, Fonteyn e Nureyev eram a evidência do sublime. 

Para alguém que não temia a ousadia de certas opiniões, Nureyev era supremo. Chamou-lhe mesmo «Deus supremo». E novamente «deus» quando, a 6 de janeiro de 1993, no seu diário, regista a sua morte: «Morreu um deus. Nureyev morreu hoje em Paris». 

Uma semana mais tarde, ainda escreve:

«A morte de Nureyev tem-me pesado muito. Vê-lo mais de uma centena de vezes foi uma gande inspiração na minha vida. Devo-lhe enormemente; e por certo, a minha poesia também».

E, numa outra passagem do diário, registada em Nova Iorque:

«Jamais um bailarino foi tão plástico, tão proteico na apreensão e projecção do que na música é mais música, é mais irredutível a outra expressão».

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