Pela primeira vez veremos Norberto Lobo a compor para uma formação, naquilo que será o primeiro passo na construção do sucessor de “Muxama”. No primeiro encontro, marcado para 4 de Março às 22h00, Lobo será acompanhado por Marco Franco, na bateria e Ricardo Jacinto, no violoncelo.
Terminado recentemente o arco narrativo d’A Volúpia das Cinzas de Gabriel Ferrandini e com ‘A Conference of Stones and Things Previous – VI’ de Filipe Felizardo ainda em processo de descoberta pessoal, a ZDB continua a estreitar relações de carinho e respeito com alguns dos músicos cujo trabalho aparece de uma forma mais ou menos livre intimamente ligado a esse espaço, através de residências de inigualável valor criativo e humano. Nesse contínuo de trabalho franco e destemido, o nome de Norberto Lobo afigura-se como uma escolha tão natural quanto gratificante dada a sua singularidade e toda uma cumplicidade mútua ao encarar o desconhecido com bravura.
Um dos mais justamente acarinhados e reverenciados músicos que apareceram no burgo, Lobo tem vindo a desenhar com uma minúcia, sede e fascínio únicos um importantíssimo trajecto à guitarra desde que se estreou em nome próprio com ‘Mudar de Bina’ em 2007. Desse primeiro registo onde se delineavam vignettes de recorte melódico puro rendilhadas na americana e no fingerpicking de heróis como John Fahey, Robbie Basho ou Jack Rose com encarnação devida do espírito do enorme Carlos Paredes – desde logo patente no título -, foi explorando contínua e apaixonadamente novos caminhos ao longo de uma duradoura relação com a Mbari em três álbuns como que a evocar desígnios para os expelir numa voz só sua.
Com colaborações mais ou menos perenes em projectos como Tigrala, Denki Udon e com particular pertinência com João Lobo em Oba Loba, a espelharem de forma mais do que digna essa mesma inquietude face à estagnação de formas e conteúdos, Lobo chega com os magistrais e reveladores ‘Fornalha’ e ‘Muxama’ pela suiça three:four a um novo patamar de elevação, onde a sua lírica se imiscuí por entre o mantra, o abismo e o absoluto para se dotar de uma linguagem profundamente sua, mas constantemente aberta, onde harmonia e textura se confundem naquele dedilhar.
É nesse campo aberto e volátil que Lobo se irá apresentar agora para uma residência na ZDB entre os meses de Março e Maio, com três actuações numa relação piramidal estreita com o trompetista Yaw Tembe (sessão de Maio) – membro de projectos como Zarabatana ou Gume e incansável sopro de vida por estes lados – e com o baterista Marco Franco – polvo com tentáculos que vão da pop ao free e que temos acompanhado recentemente nos Clocks and Clouds ou Memória de Peixe – aos quais se poderão juntar outros músicos naquele que é o mindset mais próximo da gloriosa radição standard em que guitarrista já esteve. Nesta primeira apresentação junta-se a este trio o violoncelista Ricardo Jacinto – nome com larga actividade no domínio da música improvisada que tem colaborado com gente como Nuno Torres ou David Maranha. Aquela curiosidade enorme que nos deixa imensamente orgulhosos.
Os bilhetes já se encontram à venda na Flur, Tabacaria Martins e ZDB por 8 euros.
Fonte: ZDB