A programação para o mês de Julho da ZDB muzique conta com nomes como Gizzle, Rodrigo Amado, Hand Habits, Janka Nabay, Jards Macalé e Bonnie Prince Billy, que actua no Teatro da Trindade no dia 26 de Julho.
QUARTA, 5 DE JULHO ÀS 22H
Gizzle | Genes
Gizzle é um símbolo de uma nova América que luta para despontar sob Trump, uma nova América que procura um lugar numa realidade pós-digital, numa era em que os géneros se encontram no centro de novas discussões, em que se redefinem identidades, se escolhem novos posicionamentos.
Actualmente, Gizzle prepara a sua estreia como rapper na editora de Puff Daddy / P Diddy, a Bad Boy, mas na verdade a MC já conta com mais de uma década de experiência a aperfeiçoar a arte em estúdios, a trabalhar em canções sentada em sofás ao lado de grandes estrelas, a perceber como funciona agora uma indústria que aprendeu a conhecer desde pequena. Gizzle é mulher, negra, tem 28 anos, assumidamente gay, rapper, compositora, produtora. Gizzle, enfim, pode muito bem ser o futuro.
Mais recentemente, Gizzle – cujo telefone não deve parar de tocar – ajudou Kanye West a escrever “Real Friends”, uma das peças centrais do aclamado The Life of Pablo, assinou canções para Travis Scott, para Iggy Azalea e T.I., para Kevin Gates e G-Eazy. Ser gay, que até aqui poderia ser um verdadeiro problema no conservador meio do hip hop, parece já não representar o mesmo obstáculo numa cultura que tem sabido encaixar carreiras como a de Frank Ocean ou Syd, do colectivo The Internet: “O que antes era suposto ser uma falha está agora a ser encarado como algo de positivo”, afirmou recentemente Gizzle à Pitchfork. Marcas da tal nova América: não é defeito, é mesmo feitio.
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
TERÇA, 11 DE JULHO ÀS 22H
Rodrigo Amado Northern Liberties
Regressado uma longa viagem pelos Estados Unidos e com ‘The Attic’ – numa triangulação com Gonçalo Almeida e Marco Franco – a recolher inúmeros elogios na imprensa internacional, o saxofonista Rodrigo Amado volta ao palco da ZDB com uma nova formação de nome Northern Liberties. Abrigo sucinto para este holding que reúne o músico português a três iluminados da sempre fértil cena jazz norueguesa, num intercâmbio de liberdade e fogo, em estreia viva por estes lados.
Rodrigo Amado é uma figura mais do que reconhecida pelos frequentadores deste espaço. Figura imponente do jazz e da música improvisada europeia ao longo das últimas duas décadas, tem vindo a manter uma rota ascendente de reconhecimento e maturidade sustentada num campo lexical para onde convergem os espíritos mais abençoadas para se libertarem num sopro único. Amado tem na companhia do baterista Gard Nilssen, do contrabaxista Jon Rune Strom e do trompetista Thomas Johansson um alinhamento de mentes em comprimento de onda.
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
QUARTA, 12 DE JULHO ÀS 22H
Hand Habits | Cyrus Gengras
Megan Duffy poderá ter nascido oficialmente na região de Nova Iorque, porém o que expressa nas suas canções é uma tradução de ideias, estados e percepções que farão parte do quotidiano de muitos. É esse tom confessional e aconchegante, entre o canto balsâmico e o sussurro agridoce, que aborda uma miríade de sentimentos, relevando afinal um dos segredo da pop: esmiuçar a complexidade emocional através de uma expressividade simples.
‘Wildy Idle (Humble before the Void)’ é efectivamente o disco que melhor expressa o trabalho que Meg tem vindo a desenvolver. Editado no primeiro trimestre deste ano pela Woodsist (Cian Nugent, Woods, White Fence e tantos outros), nele traz ecos dos tempos em que se apresentava como Albany D.I.Y ou a fibra das digressões nos últimos anos com os Mega Bog e Kevin Morby. Num momento especialmente sorridente para Morby, envolto de interesse e aplausos, é o próprio a apresentá-la como uma das vozes mais arrebatadoras deste tempo presente.
Ainda que boa parte destas canções surjam de esboços relativamente esqueléticos (a voz e guitarra, apenas), Meg alcança a fazer delas autênticas esculturas sonoras. Antes de se apresentar por cá ao lado de Morby, é com enorme prazer que a ZDB a acolhe. Será pois um concerto especial, em nome próprio e com um belíssimo novo álbum entre mãos. Algo que suspeitamos que não se repetirá tão cedo.
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
SEXTA, 21 DE JULHO ÀS 22H
Janka Nabay and the Bubu Gang
Se a música pode ser um ponto de encontro entre uma nuvem de pontos dispersa de geografia, expressão cultural e até massa geracional, então Janka Nabay é uma força convergente. O espólio sonoro de África calcula-se que seja eterno e ao longo dos últimos anos, muitos têm sido os resgates valiosos ao tempo e à memória – com a consagração, ainda que tardia, mas sempre bem vinda, de grandes mestres. Cabo Verde, Nigéria, Angola ou Etiópia foram regiões que figuraram nessa operação de revalorização, com impulso de carreiras ou uma série de reedições de luxo de material esquecido. Todavia a região da Serra Leoa ainda parece um refúgio exótico de onde ainda consta parca documentação musical. Reconhecida pelo highlife, género tradicional emerso entre múltiplas guitarras e cores garridas, a região guarda ainda a chamada bubu music em que Nabay se estabeleceu como expoente máximo. Actualmente apresenta-se com a sua banda suporte, os Bubu Gang, de onde se incluem membros de bandas como Skeletons, Gang Gang Dance ou Starring.
Após uma passagem pela pequena mas influente editora True Panther, o mago David Byrne convidou-o para ingressar no catálogo da sua Luaka Bop. É de lá que chega o último disco ‘Build Music’, editado em março deste ano. Provavelmente o seu álbum mais consistente até à data, nele a transparência das guitarras enlaçam-se na palete cromática dos sintetizadores, abrindo espaço às vozes pontuais e portadoras de uma verdade regenerativa, para ser partilhada no colectivo. Esta é música que celebra, pacifica e adorna, com as formas mais elegantes, qualquer momento de silêncio como uma tela em branco. Haja sol, calor e Janka Nabay que o Verão já arrancou.
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
TERÇA, 25 DE JULHO ÀS 22H
Jards Macalé | Ricardo Dias Gomes
Nascido Jards Anet da Silva no bairro da Tijuca em ambiente familiar musical, Macalé é um dos verdadeiros heróis da música brasileira. Sem o reconhecimento generalizado de alguns dos seus contemporâneos, mas amplamente citado e reverenciado pelos mesmos e demais horda de apaixonados pelo impressionante legado cultural do Brasil, Jards Macalé tem deixado um rasto discreto e pausado mas de importância social e histórica fundamental para a compreensão do mesmo.
Eterno agitador em desalinho com quaisquer tendências ou cenas, demarca-se por uma consciência política e social constante, onde o seu discurso afiado se une a uma certa crueza sonora de acerto simbólico. Apesar de inicialmente alinhado com as ideologias do tropicalismo colaborando com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, viria a romper essa ligação por achar que este tinha perdido a sua autonomia perante a indústria musical. Longe da orquestrações oníricas e dos arranjos intrincados de alguns dos clássicos do movimento, o álbum de estreia homónimo de 1970 aponta desde logo para essa cisão, numa música igualmente voraz no modo como faz convergir linguagens – jazz, blues, bossa, samba – mas despida de artifícios, envolta na poeira da realidade circundante.
Macalé tem hoje um legado riquíssimo e de uma actualidade e pertinência inquestionáveis, à imagem da sua figura anarquista e continuamente contestatária para com a autoridade e a opressão. Exemplo de absoluta independência criativa que muito nos honra receber na ZDB. BS
Entrada: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
QUARTA, 26 DE JULHO ÀS 21H30
Bonnie ‘Prince’ Billy | Matt Kivel no Teatro da Trindade
Desde o início dos anos 90 que Will Oldham é uma personagem feita de vários alter-egos, construído por músicas e imagens. Testemunhou o último grande sopro artístico do indie rock, recuperou um género proscrito (o country) e deu-nos a ouvir, como se fosse a primeira vez, essa manifestação de uma voz e de um texto chamada canção.
Fê-lo primeiro num tom desconfiado, quase lúgubre, duro, inspirado tanto pela honestidade do punk, como pelos ecos das montanhas Apalaches. Neste período, os seus discos tinham a assinatura de Palace Brothers, Palace Music ou apenas Palace, e inauguravam, para muitos, um novo género: o country alternativo. A partir de 1997, e até hoje, as coisas mudaram. Oldham abriu-se a versões (Richard Kelly, Leonard Cohen), foi alvo de versões (Johnny Cash, Mark Kozelek, Mark Lanegan) e colaborações (Björk, Current 93, Tortoise), envolveu-se em projectos laterais (com Matt Sweeney) e, sobretudo, tornou as suas canções mais partilháveis, mais próximas de quem as escuta. O humor, a exploração de outros arranjos e tradições da música popular americana (gospel, folk), a presença de vozes femininas e uma certa leveza contribuíram para essa intimidade.
Só as relações amorosas, a família, a liberdade, os temas eleitos do personagem, entretanto rebaptizada com o nome de Bonnie ‘Prince’ Billy, resistiram ao tempo. Neste retorno a Lisboa, a solo, traz-nos os temas compostos ao longo de vinte anos!
Will Oldham: voz e guitarra
Bilhetes: 15€ | Bilheteira on-line ou na bilheteira do Teatro da Trindade.